sábado, 12 de dezembro de 2009

Meu Pai, agricultor.

Eu estava tentando ficar quieto, dando sossego ao meu corpo e mente, e, sobretudo ao meu espírito [...]; e fazia isto assentado num desses bancos de madeira [...], comuns em praça velha, coberto por uma “capela” de bambuzinhos que se derramam sobre o banco cansado de guerra, mas que me dá o maior aconchego [...].
Ora, dali [...] olhando o resto do quintal/jardim/casa/destelhada... [nosso quintal: onde se tem tudo de uma casa, mas ao ar livre...], com os três laguinhos que aqui fiz para minha diversão e prazer [lazer de alguns lindos sábados]; e olhando mais um monte de outras coisinhas [...], como uma casa/cacimba/amazônica, toda de madeira, com cara de velha [...]; ou um batistério de arquitetura com o estilo dos Essênios, conforme se vê em Qunram, no Mar Morto [...]; tudo feito por nós mesmos, usando material velho jogado fora aqui nas ruas do Lago Norte...
Amo ficar ao ar livre o dia todo, em nosso quintal/casa...
Além de tudo isso ainda há a impressão que causa a enorme quantidade de plantas e árvores [maiores e menores de tipo e naturezas bem distintas] — o que atrai uma passarada maravilhosa; de nobres “alma de gatos”, “bem-te-vis”, “sabiás laranjeiras” [...] a uma grande quantidade de outros mais de 15 tipos [...], sem falar nos periquitos, que nesta época abundam [...].
Portanto, enquanto via tudo isto [...] e ouvia o ruído meigo da maquina com a qual o Jove estava cortando a grama, com o subseqüente aroma que sobe de mato cortado à espera do rastelo [...], dei-me conta de que as nossas videiras estão lindas, cheias, carregadinhas de pequenos cachos; e produzindo uma bela sombra sob suas galhadas e ramagens [...] trepadas sobre a estrutura que as ampara...
Logo outra vez Aquela Voz...
“Eu sou a Videira Verdadeira e meu é o Agricultor; todo ramo que estando em mim não der fruto, Ele o corta; e todo o que dá fruto, limpa, para que produza mais fruto ainda”.
Então lembrei como de todas as árvores que já cuidei na vida, nenhuma dá e demanda mais cuidado e carinho que a videira...
Para se amar uma videira tem-se que ter um amor que ama sem pena; com amor mesmo; visando a vida; e nunca a aparência...
Sim, pois pelo menos duas vezes ao ano, por vezes até três..., você tem que amar a videira, no auge de sua folhagem, tendo a coragem de podá-la toda, tirando ramo a ramo, folha a folha, deixando apenas os ramos que frutificam; e cortando os que não dão fruto..., mas que ainda assim existem na videira...
Os que dão fruto ficam na videira...
Os que não dão fruto o Jove joga num circulo de pedras que temos justamente para fazer fogueira e queimar galhos velhos no inverno...
O Agricultor, porém, tem que amar com amor mesmo; e não com mágicas amorosas...
Se Ele ama a Videira Ele tem que limpa-la, cortar pedaços dela; ou seja: o Agricultor tem que nela exercer a poda... Sempre... Todos os anos... Mais de uma vez cada ano...
O Agricultor também limpa em volta da videira... Cava o solo... Afofa o chão... E aduba ao redor, mas não tão próximo ao pé da Videira, que é para não alterar a qualidade harmônica e orgânica da terra... Assim, o Agricultor não põe o reforço no pé da Videira, mas no chão da terra [...] mais distante um pouco... Assim, o Agricultor põe o adubo de modo a que a Videira ponha suas raízes mais distantes [...] e sugue seus melhores nutrientes sem traumas para o caule...
Dói amar a videira quando é o tempo da poda [...]. Mas quem não a poda não a ama [...].
Vendo o Agricultor amar a Videira aprende-se que o amor tudo sofre, tudo espera e tudo suporta; e que o amor jamais acaba...
O Agricultor não pode amar com romance a Videira, buscando apenas os Seus próprios interesses e prazeres carinhosos... Não!... Ele faz o que tem de ser feito para que a Videira dê mais fruto ainda...
A relação do Agricultor com a Videira/Jesus/Discípulos/Humanidade [...] segue a lógica do amor que vejo no meu amor pelas minhas videirinhas; o que me põe no caminho do amor que corta, poda e limpa... — que é o Caminho do Deus Agricultor com o Cristo/Igreja/Humanidade...
Nunca nos esqueçamos que se na Parábola do Joio no Campo de Trigo, o campo é o mundo... — então, não se deveria pensar que o ambiente no qual a Videira esteja plantada seja outro além do chão do mundo; o que faz com que a Videira seja [...] numa relação intima e consciente [...] aquela que se confessa no vínculo Jesus/Discípulo/Humanidade; e na relação mais ampla, segundo a Ordem de Melquizedeque, a Videira é Cristo/Igreja/Humanidade...
Assim, tanto na perspectiva existencial quanto na coletiva, tem-se que Jesus/Cristo, como Videira, une Seu destino ao destino de Seus ramos; e se submete ao Pai no trato Dele para com todos os ramos, sejam eles os que conhecem a Jesus pelo nome, sejam aqueles que estão incluídos no Cristo/Videira, ainda que nunca tenham ouvido o nome Jesus com os ouvidos carnais...
Assim, vejo não somente a vida pessoal ou a existência comunitária que professa a fé com consciência de Jesus como sendo os únicos ramos da Videira, mas também toda a Humanidade/Ramo/Igreja, segundo a Ordem de Melquizedeque.
Desse modo, em meu olhar, cada acontecimento humano, seja individual ou coletivo ou até global, está carregado do amor do Agricultor que corta, limpa, poda e queima...
No Apocalipse se vê que o Cordeiro [a categoria redentora da descrição do Filho mais ampla existente nas Escrituras...] como sendo Aquele que vindima a Terra... Aliás, a linguagem do Apocalipse está carregada da idéia do trato do Agricultor em relação à Humanidade... Todas as etapas da relação do Agricultor com a Videira estão descritos no Apocalipse; a semeadura, a vindima, a poda, o lagar, o vinho... — porém, em associação à Humanidade...
Estamos nos aproximando de uma dessas Eras de Poda que o Agricultor exerce de tempo em tempo; e com mais aparência de gravidade tanto mais quanto do Fim nos aproximemos...
No tempo do Amor que Poda a única garantia para o ramo terá sido e é a sua permanência intrínseca e intima da Videira.
O Agricultor corta da Videira aquilo que é da Videira, embora tenha se tornado um pedaço dela que não se nutre Dela em essência...
O que se aprende também nessa imagem da Videira é que o amor do Agricultor é pela Videira antes de ser pelos ramos...
Ora, com isto também aprendemos que a única Humanidade que interessa ao Agricultor é aquela que se torna semelhante ao Filho do Homem!
A Meta de tudo é que a Humanidade seja a perfeita semelhança do Filho do Homem...
Assim, para o Pai, a Humanidade tem que ser como o Filho; do contrário, não é humana...
No Fim o Agricultor não soma e nem conta os ramos que se perderam, mas a Videira [...] cheia e linda; feita de todos os homens que se mantiveram firmes na única Videira...
Desse modo se pode dizer que o Agricultor pratica no curso da História exatamente a mesma coisa que Ele pratica na Natureza como um todo: seleção natural...; pois, não é Ele quem arranca sem razão [...], mas apenas corta aquilo que não se mantém no fluxo da seiva da vida...
Portanto, muitos são chamados, mas poucos os escolhidos; e, estranhamente, os escolhidos são os que permanecem na sua vocação, que é existir da seiva da Videira.

Na Videira e em nome do Agricultor,

Caio
27 de novembro de 2009
Lago Norte
Brasília
DF

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